Não há nenhum belo natural para a Música

29 de dezembro de 2008

...para aqueles que não vivem no seu tempo, na contemporaneidade, eis uma citação para uma reflexão desprendida e possibilitadora. Todo o cuidado é pouco ao relacionarmos Música à natureza... ao relacionarmos os sentimentos ao que é percebido.

“o compositor nada pode transformar, deve criar tudo de novo. O que o pintor, o poeta, encontra na contemplação do belo natural tem o compositor de o elaborar mediante a concentração no seu íntimo. Tem de esperar a hora propícia em que nele algo começa a cantar e a ressoar; mergulhará então em si, e criará a partir de si algo que não tem par na natureza e que por isso, e diferentemente das outras artes, não é deste mundo.” (pág. 94)

Eduard Hanslick (1985-1904) em seu “Do Belo Musical”


...temos como belo aquilo que reconhecemos, temos primariamente como elemento as coisas dispostas pela natureza, assim como o pintor se utiliza da paisagem, das flores, de seus modelos humanos; o compositor ao contrário se utiliza do acústico para estimular o sujeito perceptivo, tudo aquilo que nele for suscitado nada tem a ver com o conteúdo da Música, provém do próprio sujeito a realização ou não de analogias com o natural ou com o individualmente reconhecível.

A dificuldade de encontrar palavras que expressariam fielmente nossas sensações levou-nos a empregar sem medida metáforas e analogias à Música. Isso acarretou tragicamente num auto-condicionamento que passou a afetar em absoluto nossa forma de contemplá-la. Estaríamos renunciando a nossa individualidade estética e contemplativa da arte, em prol de uma aculturação coletiva afetiva e medíocre?
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